Concertos ao vivo ou em playback?

Poucas coisas dividem tanto os fãs de música quanto a questão: um concerto deve ser 100% ao vivo ou um pouco de playback é aceitável?

PUB

Com espetáculos cada vez maiores e mais espampanantes, coreografias elaboradas e exigências técnicas extremas, muitos artistas recorrem a vocais pré-gravados para manter a qualidade sonora. Mas até que ponto isso é justificável?

O playback pode ser um aliado em concertos onde a performance visual é tão importante quanto a musical. Artistas como a Britney Spears, Madonna e Beyoncé são conhecidas por usá-lo estrategicamente para equilibrar o cantar e a dança. Muitas vezes, cantam ao vivo, mas com reforços pré-gravados para garantir uma experiência sonora mais fluida.

No entanto, quando um artista finge cantar sem emitir nenhum som real, a indignação do público é inevitável. Quem compra bilhetes caros para um concerto espera autenticidade. O caso mais escandaloso continua a ser o de Milli Vanilli, que perdeu um Grammy após descobrirem que nem sequer cantavam nos próprios discos.


Defensores do playback argumentam que, atualmente, um concerto é mais do que apenas música, é uma experiência multimedia. Em grandes produções de pop e EDM, onde as luzes, os vídeos e as coreografias precisam de estar perfeitamente sincronizados, confiar apenas na voz ao vivo pode comprometer o espetáculo.

Performances gigantes como o Halftime Show of Super Bowl ou a Cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos exigem performances impecáveis, onde até os maiores artistas recorrem a pré-gravações para evitar problemas técnicos. Até a Beyoncé, conhecida pelo seu talento inquestionável, admitiu ter cantado em playback o hino dos Estados Unidos da América na posse do Presidente Barack Obama devido ao frio intenso.



Por outro lado, há quem faça do ao vivo uma bandeira de autenticidade. Bruce Springsteen, Foo Fighters, Metallica e Pearl Jam são alguns dos artistas que se recusam a usar qualquer tipo de pré-gravação, priorizando a energia espontânea de cada concerto. Para eles, os erros fazem parte da magia de uma apresentação ao vivo.



Em 2019, Liam Gallagher criticou abertamente artistas que usam playback, chamando-os de “fraudes”. A sua posição é apoiada por muitos fãs que valorizam a imperfeição genuína de uma voz desgastada pelo cansaço de uma turnê porque isso prova que o artista está realmente lá, presente, a entregar tudo de si.

No final das contas, a escolha depende do que o público procura. Quem espera um espetáculo visualmente impressionante, com coreografias impecáveis e produção cinematográfica, não se pode importar com o playback. Já quem valoriza a experiência crua e visceral do ao vivo, pode-se sentir enganado ao perceber que o artista só mexe os lábios.

Vale a pena lembrar da icónica música "Playback", de Carlos Paião. Lançada em 1981, a canção é uma crítica divertida e irónica ao uso do playback, mas também à superficialidade das performances pop da época. Na letra, Paião brinca com a ideia de que a “música não é ao vivo” e que, na realidade, o artista está apenas "a fingir" que canta. Esta canção transformou-se num hino do inconformismo com o engano que o playback poderia representar, mesmo que com um tom leve e satírico.



Embora a música critique o ato de cantar em playback, também reflete um ponto mais profundo sobre a perceção do público: a luta entre a autenticidade e a produção estética. Afinal, a performance ao vivo tem esse apelo genuíno, mas muitas vezes os recursos técnicos não conseguem acompanhar o show visual. "Playback" de Carlos Paião, portanto, não é só sobre a técnica vocal, mas também uma reflexão irónica sobre as expectativas que os artistas e o público colocam nas apresentações.

O debate entre playback e performance ao vivo continua a dividir opiniões e provavelmente nunca terá uma resposta definitiva. Mas há uma certeza: enquanto houver concertos, haverá discussões sobre o que é real e o que é truque.

MEGA
MUSIC NEWS