A ascensão da Inteligência Artificial na música: revolução ou ameaça?

A Inteligência Artificial (IA) desde a sua criação, que transforma tudo em que toca. Ao ter contacto com a criatividade humana, as barreiras deixam de ser visíveis. Mas será que consegue produzir melhores músicas que os humanos?

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Desde os primórdios da humanidade, a música tem sido uma forma essencial de expressão e comunicação. Dos instrumentos rudimentares da Pré-História às complexas composições contemporâneas, a evolução musical reflete a trajetória cultural e tecnológica da sociedade. O primeiro instrumento comum a todas as culturas é a flauta, embora a data e o local de origem não sejam tema consensual entre os historiadores, há vestígios de pinturas rupestres datadas a 60,000 anos a.C que fazem alusão a flautas e apitos feitas de ossos.

Hoje, a Inteligência Artificial (IA) emerge como uma nova força criativa, levantando questões sobre o futuro da música e o papel dos artistas humanos.

A música iniciou-se como uma extensão dos sons naturais, com os nossos ancestrais utilizando objetos como ossos e pedras para produzir ritmos em rituais e celebrações. As civilizações antigas, como a chinesa e a indiana, desenvolveram sistemas musicais distintos; os chineses destacavam-se pela cítara e pela escala pentatônica, enquanto na Índia, por volta de 800 a.C., prevaleciam os "ragas", estruturas melódicas sem notas fixas, compostas por tons e semitons.

Na Grécia Antiga, a música era considerada uma ponte entre o humano e o divino, desempenhando papel central em cerimônias religiosas e eventos sociais. Com o passar dos séculos, a música evoluiu através de diferentes períodos — Medieval, Renascentista, Barroco, Clássico e Romântico — cada um trazendo inovações em forma, harmonia e instrumentalização.

O século XX testemunhou uma transformação radical com o advento da gravação sonora, rádio e, posteriormente, a Internet. Essas tecnologias democratizaram o acesso à música, permitindo que artistas alcançassem audiências globais. Atualmente, a IA representa a fronteira mais recente dessa evolução tecnológica.

A Inteligência Artificial (IA) já está integrada em várias etapas da produção musical. Há algoritmos capazes de compor melodias, harmonias e até letras, analisando vastas quantidades de dados musicais para gerar novas peças em segundos. Certas plataformas de streaming utilizam IA para recomendar músicas, influenciando significativamente os hábitos de consumo dos ouvintes, sem que estes se apercebam.

Entretanto, a capacidade da IA criar música levanta debates sobre a originalidade e autenticidade. Embora possa replicar estilos e padrões, a questão permanece: pode a IA capturar a profundidade emocional e a experiência humana que permeiam a música criada por artistas?

Recentemente, a tensão entre criatividade humana e inteligência artificial intensificou-se. A 25 de fevereiro de 2025, mais de mil músicos britânicos, incluindo nomes como Kate Bush, Damon Albarn e Annie Lennox, lançaram um álbum intitulado Is This What We Want?. Este álbum distingue-se pelas 12 faixas quase silenciosas, contendo apenas sons de estúdios vazios.

Este movimento surgiu como resposta às propostas do governo britânico de alterar as leis de direitos autorais, facilitando que empresas de tecnologia utilizem obras protegidas para treinar modelos de IA sem necessidade de licenciamento prévio.

Os artistas argumentam que tais mudanças comprometem os seus direitos e podem levar à exploração não autorizada das suas criações.O álbum, além de ser um protesto simbólico, busca conscientizar o público sobre os desafios que a IA impõe à propriedade intelectual e à sustentabilidade da carreira artística. Os lucros provenientes das vendas serão destinados à instituição de caridade "Help Musicians”, reforçando o compromisso dos artistas com a causa

A introdução da IA na música apresenta um dilema complexo. Por um lado, oferece ferramentas inovadoras que podem expandir as fronteiras da criatividade. Por outro, ameaça a originalidade e os direitos dos artistas. A resposta talvez resida em encontrar um equilíbrio onde a IA sirva como complemento, e não substituto, da expressão humana.

À medida que avançamos, será crucial estabelecer regulamentações que protejam os direitos dos criadores, garantindo que a tecnologia seja utilizada de maneira ética e sustentável. A música, em sua essência, é uma manifestação da condição humana; preservar sua autenticidade enquanto abraçamos novas ferramentas será o desafio desta era digital.

Contra facto não há argumentos, e de facto, ignorando a incapacidade das máquinas conseguirem processar a sensação da própria produção, a IA consegue produzir peças musicais. Com o avanço da tecnologia e de mão dada à criatividade humana, a muralha com a música produzida pelo ser humano vão desaparecendo.

Fontes:

https://www.dataart.com/blog/ai-in-the-music-industry-transforming-music-production-discovery-and-data-by-sergey-bludov
https://www.vox.com/the-highlight/358201/how-does-ai-music-work-benefits-creativity-production-spotify
https://www.bbc.com/news/articles/cwyd3r62kp5o