Mas afinal quem é o Dillaz?

Para quem ainda não conhece ou quer ficar a conhecer melhor a carreira de um dos rappers mais influentes do hip hop português.

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Dillaz nome artístico de André Filipe Chapelas Neto com a alcunha de Chapz, é um rapper e produtor português nascido a 5 de maio de 1991 em Alcabideche, Cascais. Mudou-se para a Madorna aos 10 anos de idade, bairro frequentemente mencionado nas suas músicas. Ali teve uma infância atribulada, aprendeu a fazer rap e conheceu pessoas que ainda hoje leva na vida e de que tanto se orgulha.

Desde cedo, a música teve um papel importante na sua vida, influenciado por diversos estilos, incluindo o fado, género no qual o seu pai era guitarrista. A descoberta de grupos como Mind da Gap, Dealema e Eminem foram cruciais para a sua decisão de enveredar pelo mundo do hip-hop.

É na adolescência que escreve os primeiros versos e que se dedica ao ritmo e poesia. Com 17 anos (2008) grava uma música, com a sample de “Stan” de Eninem, em homenagem à prima que faleceu tragicamente.

Publicada em 2012 este seria um início de uma carreira como poucos fizeram em Portugal, mas esta bonita homenagem não foi o seu primeiro trabalho publicado. A 11 de junho de 2011, Dillaz lançou o seu primeiro projeto Sagrada Família Vol.1 onde canta sobre as suas opiniões políticas e pessoais, éticas e morais.

Esta mixtape era partilhada onde podia, na rua, a amigos de amigos e em sítios onde se vivia o rap underground. De boca em boca e aos poucos e poucos ia sendo ouvido. São raros os registos digitais destes tempos do rapper, porém vai tudo parar a internet e podemos ver uma atuação desta mixtape no antigo bar Moby Dick em Cascais.

Passado 2 meses (agosto de 2012), a plataforma de streaming vermelha com um play no meio vê a primeira música do artista publicada “Mal pra cá caminha”.

O seu canal também era usado para publicar os primeiros projetos dos seus amigos rappers, Zeca com quem hoje partilha o palco e Vulto75, com o objetivo de ganharem mais notoriedade. Este trio foi a razão pela qual Sagrada Família Vol.1 consegue ser ouvida hoje.

Ao surgir num panorama de erupção de novos rappers, o underground era um mundo paralelo ao comercial, havendo assim várias colaborações entre artistas, como por exemplo, “Ela quer um rapper” com Maximus, Malabá, Dublle zi, Kosmo, Don g, Dillaz, Jackpot e Plutonio e “Carta” com No 1, Vando Streets e Dillaz.

Com a ajuda do produtor Spliff, Sagrada Família Vol.2 vê a luz do dia a 31 de janeiro de 2013, que nos dá a conhecer um Dillaz, crítico e preocupado com a sociedade e com a realidade que vive e que vê à sua volta.

Com participações de Piruka, Joana Guerra e NeonStranger esta mixtape dá-nos clássicos do rap como, “Pedras no meu sapato” que com algum tom cômico canta sobre a realidade que vê à sua volta, “Não sejas agressiva” onde relata a sua experiência em relacionamentos, “Caravanas Passaram” que com um beat mais mexido descreve a vida que se leva no bairro, “Verídico” que é uma música dedicada ao seu amigo de infância Robin que se encontrava a passar uma má fase com drogas e “Sr. Presidente” que é uma carta aberta ao Presidente da República na esperança de realçar a dualidade de vidas que se vive em Portugal.

Com 2 projetos realizados Dillaz consegue viajar pelo país, a vender as suas mixtapes por 5€ a quem vai aos espetáculos, e passar a palavra de que se consegue viver da música. O rapper tenta consolidar a sua identidade, as amizades e o desejo de um futuro melhor. Foi nesta fase que surgiram músicas como "Agarra q’é ladrão", onde Dillaz mostra a sua perspicácia e jogo de palavras e "Até que aprendas", onde descreve a sua realidade e a luta para se manter fiel a si mesmo.

Em 2014 junta-se a Spliff e lançam o EP Cria Actividade (2014), trazendo temas como "Gangsters à sexta-feira", “Paga para ver” e “Se olhares para o caminho”, no qual utiliza metáforas e uma narrativa cinematográfica para ilustrar a adrenalina da vida no bairro e as suas experiências pessoais.

Nesse mesmo ano (2014) Dillaz lança uma música intitulada “O Homem da Sirene” tendo inspiração no clássico “Homem do Leme” dos Xutos e Pontapés, homenageando os bombeiros de Portugal, tornando-se num hino da sua discografia descrevendo a dura realidade vivida pelos heróis portugueses.

Focado em deixar a sua marca no rap e hip hop português, Dillaz lança o seu primeiro álbum de estúdio e deixa a vida underground.

Reflexo (2016) veio trazer um álbum completo de rap de qualidade. A qualificação é uma questão de gosto, mas quando os números vêm a acompanhar, não há grande coisa que se possa dizer contra. Com temas introspetivos e uma produção sofisticada, Dillaz mostrou uma maturidade artística notável, “Sonhar nesta vida”, “Protagonista”, “Caminho Errado”, “Querida Já Não Dá” com Veecious V, “Eu Estou Bem” com Vulto75, “Saudade” e “Mo Boy” são só algumas das músicas que constam no álbum que mostra o sítio de onde Dillaz veio, onde esta e para onde vai.

Dillaz com novos horizontes à frente e com números a acompanhar, podia mudar de rumo, porém manteve-se fiel às suas origens e opiniões. Fundou a Seventy Five (2016), label e empresa que remonta para o bairro onde cresceu. O próprio descreve que M75 não tem a haver com o código postal do bairro da Madorna na parede ser 2775 como as pessoas pensam, mas sim porque o bairro foi “invadido” pelos moradores pós 25 de abril em 1975 dando uma nova vida ao bairro.

Este orgulho valeu-lhe um mural (2021) na fachada num prédio do bairro que o viu crescer.

O seu segundo álbum de estúdio só saiu 6 anos depois (2022), mas Dillaz não esteve parado. Viu 2 filhos a nascer, embora mantenha grande parte da sua vida privada fora dos holofotes, focando-se principalmente na sua música e no impacto que esta pode ter na sociedade.

Nesses anos entregou-nos “Um Dia na TC”, “1100 Cegonhas”, “Wake n’ Bake” com Regula, “Gravidade”, “O Clima” com Lasht, “E Agora” com Zeca, músicas que misturam uma sonoridade moderna com uns flows modernos, reflexivo sobre a vida e os relacionamentos, sem esquecer que durante a pandemia COVID-19 com o seu assobio acompanhado de uma guitarra, fez o jingle do projeto “O Bicho” do comediante Bruno Nogueira.

Após um período de lançamentos esporádicos, Dillaz regressou em grande com o álbum Oitavo Céu (2022), onde aprofundou a sua capacidade narrativa e experimentou novas sonoridades.

"Conto" é um dos exemplos mais marcantes do disco, onde utiliza uma estrutura de storytelling envolvente, transportando o ouvinte para um universo quase cinematográfico, "Galileu" joga com referências à ciência e ao espaço para falar de sonhos e ambições, mantendo o seu tom filosófico característico, "Juvena", um dos singles de maior sucesso, apresenta uma batida intensa e letras afiadas sobre a mentalidade de rua e a superação pessoal, veio mostrar uma faceta nova do artista.

Dillaz nesta fase torna-se um dos rappers mais respeitados em Portugal, mantendo-se fiel ao seu estilo e valores, mas sempre a inovar na sua abordagem.

Até aí era independente com a sua label Seventy Five, Dillaz assina com a Sony Music para a distribuição do seu terceiro álbum de estúdio, O Próprio, lançado em fevereiro de 2024.

Estreou-se no primeiro lugar do top nacional de álbuns da Associação Fonográfica Portuguesa e manteve-se nessa posição durante seis semanas não consecutivas. Além disso, tornou-se no álbum português mais escutado de sempre na plataforma de streaming verde com 3 traços no meio, no dia de lançamento batendo assim o recorde anterior detido por Afro Fado de Slow J. Depois de lançar este álbum lançou “Na casa com o mesmo”, uma mini serie que acompanha a produção do álbum.

O álbum reflete a maturidade do artista e a sua posição consolidada no hip-hop nacional. Destacam-se temas como "Colãs", um hino de autoafirmação, onde Dillaz mistura flows dinâmicos com uma sonoridade envolvente e com um toque de valsa, "Hello", uma faixa introspetiva, que revisita a sua jornada e os desafios que enfrentou ao longo da carreira e "Alô" com Plutonio, um dos singles mais comentados, que usa metáforas para falar de tentações e consequências.

A sua influência no hip-hop português é significativa, sendo considerado um dos artistas mais conceituados no contexto do género, com uma carreira marcada por sucessos e uma evolução constante.

Dillaz não é apenas um rapper, é um contador de histórias que sabe transformar a sua vivência em música. As suas letras combinam profundidade, humor e crítica social, enquanto a sua sonoridade evolui sem perder autenticidade. Com uma discografia sólida e uma base de fãs fiel, continua a desafiar os limites do hip-hop português, provando que a sua arte é, de facto, "O Próprio".

Fontes:
https://genius.com/
https://www.racius.com/
https://www.youtube.com/@75dillaz
https://www.instagram.com/dillaz75/
https://www.facebook.com/Dillaz75?locale=pt_PT