Álbuns odiados pela crítica e adorados pelo público
Como é que a opinião dos críticos, não dita o sucesso da música, nem os gostos do público.
O gosto é subjetivo e não se discute, porém, a relação entre críticos e ouvintes nem sempre é melódico. Muitas vezes, os álbuns lançados com grande expectativa recebem críticas severas da imprensa especializada, apenas para se tornarem clássicos entre o público. Esta dicotomia pode ser explicada por vários fatores, incluindo mudanças culturais, expectativas do momento e até a resistência à inovação.
A crítica musical tende a analisar um álbum com base em critérios técnicos, históricos e conceituais, privar dos gostos pessoais, enquanto o público valoriza a conexão emocional, a experiência subjetiva e a musicalidade entre a letra e melodia. São vários os exemplos de discos que foram inicialmente rejeitados pelos especialistas que acabaram redescobertos anos depois, quando a receção popular e a evolução do gosto musical provaram o seu impacto.
Exemplos na cultura pop desta análise critica são Avicii e Jack Harlow. Quando o DJ sueco lançou o seu primeiro álbum de estúdio True (2013), decidiu revelar algumas das tracks ao público no festival de música eletrónica Ultra Music Festival Miami. Com o seu dj set acompanhado dos instrumentos e dos intérpretes das músicas, o público não teve a melhor reação, criticando-o pela sonoridade inesperada. Mais recente, Jack Harlow, cujo álbum Come Home the Kids Miss You (2022) recebeu críticas mornas, sendo apontado como genérico por especialistas. No entanto, o disco conquistou o público e rendeu sucessos como "First Class", consolidando Harlow como uma das principais figuras do hip-hop atual.
Outro fator relevante é o papel da nostalgia, pois tendo o álbum cá fora, a música torna-se imortal. O público muitas vezes revisita álbuns que marcaram momentos específicos das suas vidas, atribuindo-lhes um valor que transcende qualquer avaliação crítica. Este fenómeno pode ser observado em discos de artistas como Queen com Jazz, AC/DC com High Voltage, cujos trabalhos foram duramente criticados no seu lançamento, mas que se tornaram pilares da cultura popular.
Nenhum artista consegue escapar aos críticos, Pink Floyd com Wish You Were Here, Nirvana com Nevermind, nem o rei do pop. Já coroado, Michael Jackson quando lançou o seu 10º álbum de estúdio Invincible (2001), não foi bem recebido pelos críticos, mas o público não seguiu os comentários e tornou-o num clássico.
No contexto português, António Variações é um excelente exemplo. A sua excentricidade e sonoridade inovadora causaram estranheza na crítica da época, mas hoje é considerado um dos maiores ícones da música nacional. A sua reavaliação ao longo dos anos mostra bem como a aceitação do público pode transformar a narrativa crítica.
José Pinhal também é um bom exemplo, pois os seus contemporâneos não davam valor à sua musicalidade e só passado quase 30 anos da sua morte (1993) é que surgiu a banda José Pinhal Post-Mortem Experience (2016) que veio reviver e levar as harmonias criadas por José Pinhal aos ouvidos dos portugueses.
No final, a música pertence a quem a ouve. Se a crítica é uma fotografia do momento, o gosto popular é um filme em constante mudança. Os álbuns odiados pelos críticos, mas amados pelo público, são a prova de que a arte não se limita a um consenso imediato, mas sim a um diálogo que se estende através do tempo.
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