Como é que o TikTok está a redefinir a Indústria da Música

Se este fosse um vídeo com uma dancinha viral ao som de uma música catchy, já estaríamos a dançar e a cantar sem sequer nos darmos conta. Mas, como não é, vamos ter de nos contentar com palavras escritas.

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A indústria da música encontrou sempre formas inovadoras de chegar ao público. Primeiro, foi a rádio, que moldou os gostos musicais de gerações inteiras. Depois, a televisão percebeu que ver os artistas a atuar era um chamariz poderoso. Nos anos 80, surgiu a MTV, revolucionando o setor com uma estética jovem, irreverente e a promessa de que "Video Killed the Radio Star" (The Buggles, 1979). Agora, temos o TikTok, que não só encaixa na mesma linha evolutiva, como a está a redefinir.

A grande diferença? A velocidade e o formato.

Se antes as rádios e a TV decidiam o que viralizava, agora são os utilizadores e um algoritmo que ditam tendências em tempo real. Segundo um relatório da IFPI Internation Federation of the Phonographic Industry) de 2023, 63% dos jovens entre 16 e 24 anos descobrem novas músicas através do TikTok. Com vídeos curtos e um consumo quase instantâneo, a plataforma tornou-se essencial para a promoção musical.

A lógica por detrás deste novo formato não é mera acaso: o TikTok trabalha com um sistema de descoberta altamente sofisticado, alimentado por desafios, trends e uma comunidade de criadores que pega numa música e a faz crescer exponecialmente. Um exemplo claro é "Old Town Road" de Lil Nas X, que explodiu na plataforma em 2019 e acabou por dominar as tabelas da Billboard por 19 semanas consecutivas. Temos casos mais recentes como, “Say "de Doja Cat, “Driver License”, Olivia Rodrigo, “Golden hour” de JVKE. As editoras perceberam que agora já não basta lançar um single; é preciso torná-lo 'TikTokável' e viral. Segundo um estudo da MRC Data, 75% das músicas que atingiram o top 100 da Billboard nos últimos 4 anos tiveram uma forte presença na plataforma.

Outro detalhe curioso é a abrangência demográfica. Se a MTV era o templo dos jovens dos anos 90 e 2000, o TikTok não conhece limites geracionais. A Geração Alfa (nascidos a partir de 2010) já está têm uma presença na plataforma e consumem conteúdos e a definir gostos, mas também há Millennials e Boomers a fazerem as suas tentativas de dança e a contribuírem para o efeito de massificação. Segundo um relatório da Sensor Tower, a faixa etária entre 30 e 49 anos já representa 32% dos utilizadores ativos do TikTok.

Mas esta ascensão relâmpago traz desafios. Para os artistas, significa que a pressão para criar sucessos instantâneos nunca foi tão grande. As editoras também enfrentam o dilema de equilibrar músicas 'virais' com carreiras sustentáveis. O próprio TikTok, que tem o poder de fazer ou desfazer carreiras, está sob escrutínio da indústria, que agora procura entender até que ponto esta influência é benéfica a longo prazo. Um caso emblemático foi o de Halsey, que, em 2022, revelou nas redes sociais que a sua editora Capitol Records se recusava a lançar um novo single sem que houvesse garantias de ser viral na plataforma.

O que é certo é que a música nunca mais será a mesma. O TikTok não veio substituir nada, mas sim adicionar uma nova camada à indústria. E se antes a pergunta era "será que isto toca na rádio?", agora talvez seja mais relevante perguntar: "será que isto vira trend?".







Fontes:
https://musictech.com/news/study-shows-tiktok-real...
https://www.ifpi.org/ifpi-global-music-report-glob...
https://www.statista.com/statistics/1299771/tiktok...
https://variety.com/2023/music/news/halsey-leaves-...