Conclave: entre o grande ecrã e a realidade no Vaticano

Até que ponto a ficção se aproxima da realidade? E o que podemos aprender com esta comparação improvável?

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Começa esta quarta-feira, 7 de maio de 2025, o Conclave que irá eleger o próximo Papa, após a morte de Francisco a 21 de abril, aos 88 anos. A coincidência é notável: está ainda fresca na memória a estreia do filme "Conclave", de Edward Berger, que ficciona justamente este processo de eleição papal.

No filme, o Cardeal Lawrence (interpretado por Ralph Fiennes) vê-se envolvido num enredo de tensão e mistério no interior da Capela Sistina, onde os segredos antigos ameaçam o equilíbrio da Igreja. A narrativa, adaptada do romance de Robert Harris, combina religião com política e insinua que a escolha de um novo Papa pode estar longe de ser apenas um ato espiritual. Aclamado pela crítica, o filme destacou-se em várias cerimónias de prémios, incluindo os BAFTA e os Globos de Ouro.

Mas se o filme segue um caminho mais dramático e de conspiração, o verdadeiro Conclave segue uma tradição com séculos de história. Desde 1274 que os cardeais da Igreja Católica se reúnem à porta fechada para escolher o novo Pontífice. O local é sempre o mesmo: a Capela Sistina, no Vaticano. Participam apenas os cardeais com menos de 80 anos, este ano, serão 135, e o processo decorre num isolamento absoluto, sem telemóveis, internet ou qualquer contacto com o exterior. O objetivo? Garantir que a escolha é feita com liberdade e discernimento, sem pressões externas.

O novo Papa será eleito com uma maioria de dois terços dos votos. Até lá, os cardeais votam até encontrarem consenso. Cada votação é seguida da queima dos boletins: a cor da fumaça (preta ou branca) assinala ao mundo se já houve uma decisão ou não. É um ritual antigo, mas que continua a captar a atenção global, seja por fé, curiosidade, ou pelo peso geopolítico do cargo.

Há semelhanças óbvias entre o filme e o Conclave real: o ambiente fechado, a solenidade, o peso da decisão. Mas há também diferenças fundamentais. No ecrã há intrigas, segredos perigosos e ameaças ao coração da Igreja. Na realidade, o Conclave é feito de orações, silêncio e uma tentativa de escutar a vontade de Deus. O drama existe, mas está longe da teatralidade da ficção.

"Conclave", oferece uma visão envolvente, com um toque de thriller e uma pitada de crítica institucional. O Conclave real, por sua vez, continua a ser um dos processos eleitorais mais misteriosos e respeitados do mundo. E a partir de hoje, os olhos do mundo voltam-se para o Vaticano à espera de uma pequena nuvem branca que anunciará, uma vez mais, um novo capítulo na história da Igreja.