Será que os Beatles podiam acontecer hoje?

A pergunta impõe-se: conseguiriam os Beatles furar o algoritmo e conquistar o mundo, se nascessem agora?

PUB

Imagina isto: quatro miúdos de Liverpool, com franjinhas cortadas na régua e blazers apertados, a tentar publicar vídeos para o TikTok com covers dos Everly Brothers e músicas românticas a três acordes. Zero autotune. Sem danças coreografadas. Sem colaborações com rappers americanos.

Em 1962, os Beatles foram rejeitados por uma editora com a frase: “Bandas com guitarras estão a sair de moda.”

No ano seguinte, explodiram com “Please Please Me” e, pouco depois, mudaram a música para sempre. Mas isso foi num mundo pré-streaming, pré-Shazam, sem redes sociais, nem pressão de lançar uma música nova por semana para manter relevância. Hoje, é outra história.



Se aparecessem agora, os Beatles teriam de lidar com plataformas de streaming e redes sociais a decidir o que “vale a pena ouvir”, playlists editoriais com critérios misteriosos, concorrência diária de 100 mil músicas novas, cultura de consumo instantâneo: se não prende nos primeiros 6 segundos… next.

John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr teriam de competir com produtores de quarto, influencers de moda, ex-concorrentes do "The Voice" e um algoritmo que não quer saber se sabes cantar bem só se és viral.

Mesmo num mar de ruído digital, boa música continua a vingar. Se os Beatles surgissem hoje com o mesmo talento, a mesma química e a mesma criatividade, não é impossível imaginá-los a criar algo que se destacasse.

Talvez fossem descobertos pela plataforma de streaming laranja com uma novem ou pela vermelha com um play, como aconteceu com muitos outros artistas, como poer exemplo, Justin Bieber. Talvez fossem mais parecidos com os Arctic Monkeys, Tame Impala ou até Billie Eilish artistas que souberam ser fiéis à sua linguagem, mesmo no caos digital. Talvez só precisassem de um produtor com bom olho (e um reels bem editado).

O contexto histórico foi uma componente muito importante no sucesso dos Beatles: a explosão da juventude nos anos 60, a revolução sexual, os psicadélicos, a transição do preto-e-branco para o technicolor, sendo eles a banda sonora de tudo isso.
À pergunta: Hoje, seriam incríveis? Provavelmente.

Seriam lendas intocáveis como foram? Mais difícil. Hoje, a fama é volátil, e o culto às celebridades mudou de drástica: vive de polémicas, números e da viralidade.

Os Beatles nasceram na época perfeita para serem… os Beatles. Se surgissem agora, talvez fossem uma banda alternativa britânica com sucesso entre os críticos. Talvez fossem um fenómeno nas redes sociais com mashups de Mozart e Beatles. Ou talvez… ainda fossem os maiores de sempre.

Porque, no fim do dia, talento é eterno o resto, é gestão de carreira.